quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Mais noticias da bolacha!



Uma boa notícia foi anunciada recentemente enchendo os olhos dos fãs do vinil: a DeckDisc, a gravadora que mais lança discos de rock por aqui atualmente, comprou a Polysom e deve iniciar as atividades em setembro. Por Márcio Sno







Última será a primeira:


ÚNICA FÁBRICA DE VINIL DA AMÉRICA LATINA VOLTA A FUNCIONAR



Por Márcio Sno



No Brasil, com o aparecimento do CD nos anos 90, a vida do vinil teve os seus dias contados, sua morte decretada com o MP3 e o seu enterro anunciado com o fechamento em 2007 da única fábrica de vinis da América Latina: a Polysom.


Mas essa morte não foi engolida pelos amantes do formato que continuaram a cultuar – e a consumir – os discos vindos de outros continentes que, ao contrário do Brasil, não pararam a produção.


Uma boa notícia foi anunciada recentemente enchendo os olhos dos fãs do vinil: a DeckDisc, a gravadora que mais lança discos de rock por aqui atualmente, comprou a Polysom e deve iniciar as atividades em setembro. Os selos e bandas independentes enfim vão realizar o sonho de lançar no clássico formato. Porém, os mais céticos olham com desconfiança, pois a fábrica continuará a ser a única na América Latina, e isso, na visão deles, pode fazer com que a empresa estipule o preço que quiser.


Pelo bem e pelo mal, o vinil brasileiro está de volta e para tirar algumas dúvidas sobre esse retorno, conversamos com o produtor e sócio da fábrica, Rafael Ramos, que alerta: “a volta do vinil não tem nada a ver com retrô”.




+ entrevista

RAFAEL RAMOS




Com a chegada do CD, na década de 90, o vinil desapareceu no Brasil, ao contrário da Europa, Estados Unidos e Japão. A que você atribuiu o sumiço do vinil por aqui?


As comodidades que o CD apresentava quando surgiu - como a portabilidade, o tamanho menor, a possibilidade de se colocar muito mais tempo e música - fizeram com que o vinil perdesse espaço. Isso somado ao fim da fábrica em 2007, no exato momento em que a onda do vinil aumentava na Europa.


Em sua opinião, a volta do vinil se dá mais pela onda retrô ou pela qualidade de som que é atribuída ao formato?

Não tem nada a ver com retrô. Algumas pessoas sentem falta das capas grandes, outras do som mesmo, já que o MP3 tem a qualidade bem mais baixa, e outras do próprio fetiche de se colocar um disco na vitrola. A experiência do consumidor, o ritual de se ouvir música faz falta. Os graves também fazem falta.


A partir de qual momento perceberam que o vinil (que já teve sua morte decretada inúmeras vezes) era um nicho de mercado?

Para mim, o vinil nunca deixou de ser importante. Continuei comprando LPs e mantive meu toca-discos. Quando a gente topou entrar nessa verdadeira cruzada que é a reativação da Polysom, não tínhamos muita ideia do quanto o vinil ainda é cultuado. Agora, a sensação é que o formato acordou de repente. Todo mundo fala em vinil e, ao que tudo indica, todo mundo quer vinil. Está nos filmes, na imprensa, anúncios de empresas.


A Polysom é uma empresa apenas de prensagem de discos sem vínculo direto com a Deckdisc. Ou seja, a Deckdisc será uma cliente da Polysom, mesmo sendo do mesmo dono. Por que resolveram abrir ao invés de fechar só com seus artistas?

Porque seria um crime contra a própria música e a evolução do mercado, uma vez que a Polysom é a única fábrica da América Latina. E também porque a Polysom, por estar buscando qualidade acima de tudo, precisa faturar para investir em profissionais bons, equipamentos de primeira linha e matéria prima confiável. O nosso catálogo não sustentaria uma fábrica sozinho e são muitas as possibilidades dentro dos acervos das gravadoras. Muitos discos fora de circulação devem voltar com o retorno da fábrica.


Sendo a única fábrica de vinil na América Latina, naturalmente vocês não têm concorrência, logo, o preço vocês mesmos podem controlar. Como vai ser lidar com isso, tendo em vista questões mais delicadas como o monopólio de produção?

Estamos batalhando para oferecer o vinil pelo menor preço possível, mas não podemos simplesmente nos estrangular. Tem gente no Ministério da Cultura tentando ajudar com a redução de alguns impostos, que são vultosos no Brasil e atrapalham muito. Fora isso, as matérias primas, o PVC, o combustível, os acetatos importados, tudo é muito caro. Então, não se trata de monopólio, mas sim de manter a fábrica aberta e funcionando. Somente isso irá dirigir a decisão sobre os preços.


Em quais condições encontraram a Polysom? Quais foram as principais mudanças e o que ainda falta colocar em dia?

A Polysom estava fechada desde outubro de 2007. Só isso já dá uma ideia do quanto ela necessitava de intervenção com obras, reforma dos equipamentos e reativação dos diversos fornecedores. Está dando muito mais trabalho do que pensamos, mas achamos que os resultados serão ótimos. Estamos no meio de uma obra civil, as prensas foram desmontadas até o último parafuso e já estão remontadas, novinhas em folha, prontas para funcionar.


Um vinil simples é vendido aqui na média de cem reais. Com a produção no Brasil, esse preço pode chegar a quanto?


Isso vai depender de vários fatores: as gravadoras/artistas, os comerciantes, a arte gráfica, local de distribuição etc. Mas acreditamos que eles possam chegar ao consumidor por volta de 60 ou 70 reais.


A Polysom tem capacidade de produzir 40 mil cópias por mês. Sendo a única fábrica por aqui é certeza de que vão trabalhar full time. Isso pode estimular o crescimento/aumento da fábrica? Já pensaram nessa possibilidade?

O número certo inicial, após tudo testado, obviamente, será a capacidade de 28 mil LPs e 12 mil compactos por mês. Esse é o número inicial. Assim que estiver em produção, já estaremos trabalhando na ampliação, com mais prensas.


Você acredita que o retorno da Polysom possa estimular o aparecimento de novas fábricas aqui no Brasil ou mesmo a vinda de multinacionais para investir nesse mercado?

Lamentavelmente, achamos difícil que apareçam outras fábricas simplesmente porque os equipamentos não são mais fabricados e os que existiam foram sucateados. É uma pena, porque ajudaria muito ter mais poder de fabricação para que o vinil se estabelecesse com força. Nos Estados Unidos, a informação que temos é de que as fábricas não conseguem dar conta das encomendas.


E já há encomendas?

Tem muita gente procurando. Já sabemos os números que as gravadoras grandes e muitos independentes vão querer, pra começar. Estamos organizando a parte comercial pra poder oficializar esses pedidos.


Com o MP3 e a volta do vinil, a morte do CD está mais próxima?

A morte do CD está ocorrendo principalmente por causa da pirataria. É um produto muito bom, ninguém tem dúvida. O vinil será apenas mais uma opção para se reproduzir música.


Quais são os prós e contras para lançar em vinil?

Os custos de produção são muito mais altos. Fora isso, só há pontos positivos.


Muito se fala que o peso do vinil (120 ou 180 gramas) interfere na qualidade do som. Isso é verdade ou mito?

É um comprovado mito, quando se fala em termos de som. Mas o manuseio de um disco de 180gr é muito mais legal do que quando você pega um de 140gr, por exemplo. Se fosse melhor, os DJs, que dão valor ao som, só pediriam de 180gr, o que não acontece. Uma vez que o corte tenha sido bem feito, o som é o mesmo, o que muda é a experiência do consumidor, de ter em mãos algo mais robusto, a sensação é outra, mas o som, de novo, será o mesmo.


Qual o vinil que você possui e que não vende muito menos empresta?

Nunca emprestei meus vinis, na verdade, pedia emprestado e tentava atrasar a devolução ao máximo. No momento tenho alguns xodós. O Trash Zone, do DRI alemão, O Lullabies to Paralyze, do Queens of the Stone Age edição limitada, Os Dead Kennedys originais da época que demorei a beça pra encontrar e agora foram relançados, mas o original tem seu valor, né?


E quais você gostaria de reeditar?

Dos gringos nem se fala. Mas nacional, tem muita coisa do Jorge Ben que tem que ser relançada, todos os Mutantes com Rita Lee, Os Secos e Molhados, Os Titãs todos... Muita coisa cara, muita coisa mesmo. Os Tim Maia do início dos anos 70. Roberto Carlos... Assim ficamos nos bem óbvios, mas se abrir a porteira, não caberia aqui.


Doze de agosto é Dia do Vinil. Mais do que nunca, um dia para comemorar?

Sim, um dia para comemorar! Gostaríamos de fazer isso já produzindo o primeiro LP da nova Polysom, mas não será possível. Se tudo funcionar conforme imaginamos, estaremos funcionando comercialmente em setembro.

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